“Meus senhores e minhas senhoras Parlamentares, para que os senhores e as senhoras tenham uma ideia do tempo que eu demorei, que eu construí na minha vida para me sentar aqui, eu já votei e já elegi 15 Presidentes desta Casa.
Para os senhores terem uma ideia da minha imensa responsabilidade ao aqui estar, mas, por outro lado, uma profunda consciência e maturidade de que chego aqui, esperado todo esse tempo, para não deixar que os senhores e as senhoras esperem tanto tempo para que eu possa fazer realizar os anseios e os sonhos do Parlamento do meu País.
Eu quero nesta hora dizer que também, na humildade aqui dita por esse grande Presidente Marco Maia, que sucedeu ao grande Michel, ao grande Chinaglia, ao grande Aldo, chegando até, numa referência carinhosa, ao meu querido Inocêncio que presidiu esta Casa, eu chego aqui, sim, pela minha história, pelo meu trabalho, pela minha coerência, pela minha lealdade e pelo meu compromisso com o Parlamento. Mas tenho a consciência de que eu chego muito mais no respeito à regra democrática da proporcionalidade, do cumprimento rigoroso que é ético, da palavra dos partidos, das bancadas que me apoiaram, após debate, discussão e consciência, que se somaram nesta hora para chegar aqui e eleger o Presidente da Câmara que eles queriam.
Então, com esse dever, quero acrescentar, para que todos não esqueçam, o discurso que ali proferi. Eu poderia tê-lo feito numa folha de papel, onde as palavras se encaixariam com mais cuidado em busca de um voto ali ou de um voto acolá; mas, não. Eu não queria papeis, eu não queria compromissos escritos, eu não queria propostas enumeradas; eu queria o sentimento de quem conhece esta Casa profundamente.
Eu sou de um tempo em que esta Casa se orgulhava de se abrir ao povo brasileiro e à comunhão de pensamentos e de ideias. Eu sou de um tempo em que esta Casa se impunha pelos seus debates, pelos seus melhores valores. Eu vivi tudo isso; mas vivi também tempos como hoje, quando é fácil ter arroubos de se bancar o valentão ou o destemido. Eu sou de um tempo em que era preciso ter coragem para não sucumbir, em que era preciso ter coragem para resistir. E graças a Deus atravessei esse tempo e chego aqui hoje inteiro para ser Presidente da Câmara dos Deputados do meu País.
Esta Casa, volto a dizer, e é importante em momento algum nos esquecermos, dá-nos força interior, é nossa autoestima, é direito nosso que ninguém tira, por mais que haja má vontade aqui e acolá, jogos perversos em relação ao Legislativo aqui e acolá, críticas absurdas e descabidas à atividade parlamentar aqui e acolá. Tudo bem.
Quem viveu a democracia que eu vivi, quem resistiu o que eu resisti, quem enfrentou o que eu enfrentei…Talvez muitos não saibam, a minha família é a mais cassada pela ditadura militar, pela sua violência, pela sua brutalidade, três de uma família só… Então, eu sei o que tive que passar, sei o que tive que viver, sei o medo que tive, o medo que tive que superar para chegar aqui inteiro.
Então, que nunca se esqueçam nenhum dos senhores e senhoras, os outros poderes; com todo respeito a minha querida Presidenta Dilma, Presidenta eleita pelo voto popular o seu conjunto de Governo com Ministros respeitados e nomeados; e o Poder Judiciário — repito —, ilustre no saber jurídico e em interpretar a Constituição; todas as homenagens a um e a outro, mas o Poder que representa o povo brasileiro na sua mais sincera legitimidade, queiram ou não queiram, é esta Casa aqui, é o Poder Legislativo, é o Parlamento do Brasil!
Não faltará a um ou ao outro, ao Poder Legislativo e ao Poder Judiciário, que interpreta as leis, não faltará o nosso respeito, mas tanto um quanto outro não se esqueçam que aqui nesta Casa só tem Parlamentar abençoado pelo voto popular deste imenso Brasil, de nossa Pátria.
Eu sei a missão que me espera. Mas digo aos senhores, são 42 anos de vida pública. O meu Estado, o Rio Grande do Norte, me conhece desde menino. Os senhores têm ideia do que é ter 11 mandatos consecutivos — um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze? E o 11º foi a minha maior votação de todas. É o Estado que me conhece, o Rio Grande do Norte. É o povo que convive comigo de manhã, de tarde, de noite, nos meus erros, nos meus acertos, nos meus defeitos, nas minhas qualidades, mas na hora do julgamento popular, ele me faz aqui, para minha honra, o seu representante.
No meu partido, que convive comigo há 42 anos, eu já estive em cima, já estive embaixo, já tive pai Ministro, pai cassado, perseguido. Tudo vivi dentro deste partido. Este partido que, pela primeira vez na sua história, me elegeu líder para um ano e reelegeu no segundo, no terceiro, no quarto, no quinto, no sexto, sem disputa. É porque eu sou acima dos demais? Nunca, nunca, nunca. Em um homem com a minha história, a vaidade, se no passado existia, hoje ela passa longe.
Mas isso prova, quero dizer, a minha lealdade ao partido, o respeito à democracia, à coerência, à palavra empenhada, porque enquanto os médicos têm no bisturi o seu instrumento, os engenheiros têm na regra de cálculo o seu instrumento, o nosso instrumento aqui é só um: a palavra. A palavra é a marca do político e é ela que tem que ser honrada.
Na hora da coragem, na hora do medo, na hora da aflição, na hora da alegria, na hora das vitórias e na hora das derrotas.
Ah, meu querido Ulysses Guimarães, como aprendi, querido mestre. E você me dizia muitas vezes: Henrique, um político tem de ter muitas qualidades: ética, sensibilidade e humildade. Mas tem uma que éa principal, meu filho, a coragem. Mas não é a coragem da agressão, do desrespeito do falastrão, não. É a coragem até de saber recuar; é a coragem até de saber mudar, porque isso traz dentro de nós a profunda consciência.
Outra lição, que aprendi com meu pai e que desejo deixar aos mais jovens, que, se puderem, atentem a isso, pois terão muitos anos, como eu já tive no passado. Meu pai me dizia: Nunca queira um voto por oportunismo, por conveniência, por esperteza. Não, meu filho. Esse voto pode ser seu de manhã e não sê-lo à tarde. Queira sempre o voto que você conquista, que você convence, que vai à consciência, passa pelo coração, chama aos olhos e às mãos, porque esse voto vai estar com você a vida inteira.
É esse voto que me acompanha o tempo todo e que me faz hoje, com certeza, no julgamento de V.Exas., Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil.
Deixo essas palavras iniciais muito mais pela emoção, perdoem-me, mas esta Casa sabe que o Brasil lá fora, que nos ouve aqui, e o meu Estado Rio Grande do Norte principalmente, quer uma Casa palpitante, que os temas nacionais cheguem aqui, como chegou aquela noite o Código Florestal. Com todo respeito a quem ganhou ou quem perdeu, aquela noite é a noite dos meus sonhos para esta Casa: a controvérsia, o debate, as pessoas legítimas, o embate, o voto, a discussão, a votação, o Brasil real. Éisso que a gente quer para este Parlamento: vida.
Fazer uma pauta propositiva não é apenas para discutir. Este Parlamento não foi feito para ganhar tempo, não foi feito para empurrar com a barriga, não foi feito para enrolar. Este Parlamento foi feito para discutir e votar, debater e decidir. É este Parlamento que quer discutir o pacto federativo, e vai discutir e votar. É este Parlamento que quer decidir a questão do FPE, debater e decidir. É este Parlamento que quer resolver a questão dos royalties, uma riqueza nacional, com justiça e equilíbrio, debater e votar. É este Parlamento que quer discutir a questão da segurança pública, discutir e decidir.
Esta é a pauta: é fazer desta Casa o fórum para que esse emblema que os senhores e as senhoras usam mostrando que é Parlamentar, a gente possa usá-lo com mais orgulho ainda, de cabeça erguida, porque todos nós sabemos que na hora das aflições, Srs. Deputados, na hora das angústias, passam 3.000 pessoas nos corredores desta Casa.
Quando apertam os sindicatos, associações, entidades, não épara lá que eles vão, é aqui que eles chegam, em nossos gabinetes que eles entram, em nossas mesas que eles ficam, em nossas cadeiras que eles se sentam. Então, se eles vêm aqui, nós os recebemos. E nós esse temos esse dever. A essa multidão, a essa Nação, a este País devemos mostrar que nós somos o instrumento, o órgão, a voz mais legítima e representativa do povo brasileiro.
Ao finalizar, uma palavra muito clara. E não pensem que é jogo de palavras, como eu dizia no discurso. A idade tem coisas ruins, porque há o tempo de parar; mas tem coisas boas, como a de, ao longo do tempo, ir transformando a habilidade em verdades, e isso o faz ser melhor. Então, o que eu vou dizer aqui — mesmo em alguns momentos decepcionado ou ferido, não importa, passou —, o que eu vou dizer aqui é que quem está sentado a esta mesa não é um vencedor, e os outros que estão aqui não são vencidos. Eu quero ser, com eles e com todos, a vitória do Parlamento altivo, corajoso, independente e do povo brasileiro.
Muito obrigado.
Dizendo isso, Deputado Júlio, Deputado Chico Alencar, Deputada Rose, à senhora e aos senhores o meu profundo respeito. A partir de agora, quem quer bem a esta Casa, como eu quero — esta Casa é minha casa —, quem quer bem a este Parlamento, como eu quero, vamos todos nos dar as mãos para provar àqueles que não querem bem a esta Casa,
Nós sabemos e os respeitamos, mas que passem a respeitar mesmo, de verdade, para valer, a verdadeira Casa do povo brasileiro, o Poder Legislativo, o Parlamento do Brasil.
Muito obrigado a todos. Muito obrigado mesmo. Desculpem a emoção, mas imaginem o menino que entrou por aquela porta. Estou me vendo com 22 anos. Sentei-me ali, depois passei para acolá, cheguei aqui como Líder. Esse menino hoje se tornou Presidente da sua Casa. É uma emoção muito grande e, se Deus quiser, vamos fazer respeitar cada vez mais a nossa Casa, o Parlamento Brasileiro.
Muito obrigado a todos e, num gesto de reverência, me levanto para agradecer. Muito obrigado!”